Por Raquel Balin Corrêa/Revista Viral – Julho/23
Nesta entrevista especial, vamos conhecer a história de Maiara Schneider Campos, uma brasileira corajosa que decidiu deixar o seu país para viver na Austrália. Aos 33 anos, Maiara compartilha conosco suas experiências, desafios e descobertas ao se adaptar a um país com uma cultura, idioma e costumes distintos.
Formada em Direito pela Universidade de Cruz Alta, Maiara atualmente reside em Gold Coast, na Austrália, onde trabalha como cuidadora de pessoas com deficiência e também em Recursos Humanos para eventos e festivais, casou-se com Dylan Trickett, em Las Vegas, em agosto de 2023.
Nesta entrevista, Maiara nos conta sobre as diferenças culturais que encontrou ao viver na Austrália, desde a língua inglesa com seu sotaque peculiar até as regras e leis rígidas que governam o país. Ela também compartilha suas motivações para deixar o Brasil, destacando a busca por uma vida com mais experiências, possibilidades e aprendizados.
Além disso, Maiara discute sobre como se adaptou às tradições e costumes locais, enfrentando desafios como a saudade da família e dos amigos, e revela o que sente falta em particular do Brasil. Ela também nos surpreende com suas descobertas sobre a cultura australiana, como a ausência de religiosidade predominante e o respeito e educação presentes no dia a dia.
Por fim, Maiara compartilha sua perspectiva em relação ao retorno ao Brasil e deixa conselhos valiosos para aqueles que também desejam viver a experiência de morar fora do país. Se você tem interesse em conhecer mais sobre as vivências e aprendizados de Maiara Schneider Campos na Austrália, continue lendo esta inspiradora entrevista.
Maiara, quais são as principais diferenças culturais que você notou ao viver fora do Brasil?
A Austrália por si só, tem muita similaridade com o Brasil no quesito de belezas naturais, paixão por esportes, eventos, praias. A língua inglesa é a língua mãe, mas o inglês australiano é um pouco diferente pelo sotaque e a maneira de pronunciar as palavras. Eles abreviam muitas palavras e dão certos apelidos para as coisas, como por exemplo: McDonalds= Macca’s, Barbecue= Barbie.
A Austrália também é um país que funciona muito bem pela quantidade de regras e leis existentes, como por exemplo: extremamente proibido jogar bituca de cigarro ou lixo no chão; você só pode andar bicicleta com capacete e em determinados lugares; não existem cobradores nos ônibus e trens, mas é imprescindível que você pague a passagem (fiscalização por câmeras ou de fiscais que surgem aleatórios para verificar o seu cartão), cachorros precisam ser registrados no council (espécie de prefeitura), ter micro chip e os donos pagam uma taxa anual (como a de registro de veículo), assim não existem cachorros de rua. Como essas, existem outras mil regras e tudo é muito bem fiscalizado, se você não seguir as regras, paga multas que não são acessíveis, que podem te levar à corte.
Também na Austrália, os bares, restaurantes e eventos são obrigados a fornecer água de graça para todos. Também existem muitos lugares onde você pode levar a sua própria bebida alcoólica, incluindo grandes eventos.
O consumo de bebidas alcoólicas na Austrália é muito restrito. Por causa de algumas fatalidades que ocorreram, um debate enorme foi levantado e uma série de leis estabelecidas. Cada estado tem suas próprias versões para venda de bebidas alcoólicas, porém todos são bem similares.
A direção é do lado invertido do Brasil, como na Inglaterra. Enfim, são inúmeras diferenças mas que você se acostuma com o tempo.
O que te motivou a deixar o Brasil e escolher residir em outro país?
Minha ideia inicial não era não voltar ao Brasil, queria passar uma temporada fora, aprender outra língua, viajar para alguns países, conhecer pessoas diferentes e depois retornar.
Um dos motivos principais que me fez querer viajar, foi a frustração pessoal que enfrentei depois de ter terminado a faculdade. Acredito que na minha época a escolha da profissão foi precipitada e por motivos errados. Eu achava que para ser “alguém” na vida, eu precisava ser muito bem sucedida profissionalmente, queria ganhar muito dinheiro para poder viajar e ser independente, sem entender que todos nós já somos “alguém”, só pelo fato de estarmos vivos.
A minha caminhada pós graduação foi frustrante em muitos aspectos e de certa forma, foi o que impulsionou minha busca por algo diferente. Sempre tive o desejo pela mudança, pelo novo e a chance de ver o mundo com os meus próprios olhos era algo que me animava e ainda me fascina.
Eu queria explorar possibilidades e viver diferentes experiências de vida. Nunca me conformei com o fato que deveríamos permanecer no mesmo lugar, seguir a regra de ter uma profissão, casar, ter filhos, comprar uma casa e ali ficar (respeito todas as escolhas, mas não achava que eu, pessoalmente, me encaixava e queria seguir esse padrão).
O mundo é grande, pessoas vivem e pensam diferente, sempre me fascinou saber da existência de outras formas de vida, de relacionamento, de trabalho, lugares pra conhecer e experiências para se vivenciar.
A escolha de permanecer em outro país foi uma consequência das minhas escolhas. Reaprender uma nova maneira de viver me fez rever e mudar certos valores e crenças que me fizeram querer ficar e construir uma história que se encaixa melhor com o que sou hoje como pessoa.
Como você se adaptou às tradições e costumes locais?
Vivendo e trabalhando com muitas pessoas de outras nacionalidades. Sempre convivi muito com brasileiros e isso me ajudou muito no quesito de não me sentir tão estranha no lugar onde eu estava, principalmente por ter pessoas que experienciaram situações similares às minhas. Acredito que muita coisa fui me acostumando aos poucos e sem perceber. Quando comecei a me comunicar melhor e entender a língua, consequentemente fiz mais amigos locais, me envolvi com pessoas e atividades da comunidade e a imersão aconteceu naturalmente. Também tive que aceitar que sempre serei diferente dos locais e tenho orgulho disso, mas sempre estou aberta a novas experiências e vivências.
Quais foram os maiores desafios que enfrentou ao se mudar para outro país?
Sem dúvida a saudade da família e amigos é um dos maiores desafios. A vida cobra um preço alto pelas nossas escolhas e nunca me sentirei completa de não estar presente na vida diária de quem eu mais amo e admiro no mundo.
Você sente falta de alguma coisa em particular do Brasil?
Saudades minha família, amigos, festas e comida, muita saudade da comida.
Como é a experiência de morar em um lugar com um idioma diferente do seu?
No início foi difícil, você só se dá conta do quanto a linguagem falada é importante, quando você se deparar com situações em que não sabe como se comunicar, perguntar e principalmente, argumentar e se defender. Enquanto existem pessoas que tem paciência e fazem certo esforço para te entender, existem pessoas que não são acostumadas, não tem paciência e nem vontade em fazer com que você se sinta entendido. É assustador não entender o que as pessoas falam ou te perguntam, principalmente no que diz respeito a trabalho. Você literalmente volta a ser um bebê, aprendendo a falar assistindo aos outros e repetindo palavras (pelo menos foi minha experiência, com pouca base na língua inglesa).
Quais são as principais semelhanças que você encontrou entre a cultura do seu país de origem e o país em que reside atualmente?
Australiano ama churrasco, tudo sempre acaba em Barbecue (como eles chamam o churrasco aqui). Existem churrasqueiras elétricas em lugares públicos, para que todos possam usar de graça, não precisa reservar, só deixar limpo depois.
Apesar de serem conservadores e mais reservados, a Austrália é um país construído por imigrantes, o que os torna muito hospitaleiros (do jeito deles), em relação à pessoas de outras nacionalidades (claro, com algumas exceções), o que lembra bastante o jeito brasileiro de acolher todo mundo.
Quais foram as maiores surpresas ou descobertas que você teve sobre a cultura local?
A Austrália não é muito ligada à religião, quase 40% dos Australianos se considera sem religião.
A população da Austrália é muito pequena comparada ao território, 20 milhões de pessoas, sendo que 90% estão concentradas na região da costa, ainda existem muitas áreas inabitadas.
Australianos são muito educados, existe um respeito com o próximo em relação a sempre se desculpar caso esbarrem em você ao passar na rua, por exemplo. Os bons costumes de falar “por favor”, “obrigada”, “com licença “, “me desculpe”, são utilizados frequentemente.
Como é a qualidade de vida no país em que você vive atualmente, em comparação com o Brasil?
A qualidade de vida na Austrália é considerada uma das melhores do mundo. Com algo índice de empregos, a grande maioria das áreas sofre com a falta de profissionais capacitados, o que explica a boa oportunidade para imigrantes, seguido dos salários justos e que proporcionam um poder de compra igual para a grande maioria da população e de imigrantes. Mas em contra partida, o salário justo vem com um custo de vida alto e taxação de impostos (mais se ganha, mais se paga), porém a Austrália fornece transporte público de qualidade, saúde, educação, lazer e segurança para a população.
Você pretende retornar ao Brasil algum dia?
Nunca direi nunca, eu amo o Brasil com todo meu coração. Hoje minha vida é aqui, minha rotina é na Austrália e foi onde eu escolhi chamar de casa. Mas a vida muda todo tempo e não sabemos o dia de amanhã. Talvez voltaria para uma temporada, mas não permanente. Voltar para passar mais tempo com meus pais e minhas avós, ter mais tempo em família, acompanhar o crescimento da minha sobrinha, me reaproximar dos meus irmãos e amigos. A vida cobra um preço alto em todas as nossas escolhas e escolher, é perder, você só precisa aprender a lidar com isso.
Para finalizar, pedimos para a Maiara compartilhar alguns conselhos para aqueles que desejam viver a experiência de morar fora do Brasil:
1 – Estude sobre o país que você planeja se mudar: Pesquise sobre as cidades, entre em grupos de brasileiros que vivem no local e familiarize-se com os desafios do cotidiano.
2 – Aprenda a língua local: Dedique-se a aprender o idioma do país de destino. Assista filmes, leia livros, ouça músicas e estude para se familiarizar com a língua.
3 – Faça um planejamento a curto e longo prazo: Tenha um plano flexível que possa ser ajustado conforme necessário. Considere suas metas pessoais e profissionais ao fazer esse planejamento.
4 – Pesquise sobre sua área profissional: Informe-se sobre a demanda de trabalho no lugar escolhido. Essa pesquisa pode abrir muitas oportunidades para você.
5 -Esteja preparado para enfrentar dificuldades: Esteja ciente de que nem tudo será fácil. Esteja disposto a enfrentar desafios e perrengues ao longo do caminho.
6 – Reflita sobre suas escolhas: Pense cuidadosamente sobre deixar para trás sua família, amigos e rotina. Avalie os prós e contras antes de tomar a decisão.
7 – Esteja aberto e disposto a trabalhar duro: Esteja preparado para se dedicar tanto financeiramente quanto pessoalmente. Trabalhe em prol do seu sustento e do seu crescimento como pessoa.
“E por fim, não tenha medo do novo e do diferente: Esteja disposto a sair da sua zona de conforto e tenha coragem de buscar aquilo que te faz feliz.” Maiara Schneider Campos